Livros são o melhor presente que há. Gosto de os receber mas
também gosto de oferecer. Exceto quando me pedem para dar um dos meus livros.
Sentimento de posse? Sem dúvida. Os meus livros são objetos emocionais, mesmo
os que não gostei têm o seu lugar na estante, o seu espaço especial na minha
vida.
Desde há umas semanas que tenho alimentado um desafio, tornar-me
mais desprendida e dar um livro. Um dos meus livros. A ideia não foi minha.
Também não me foi imposta. Foi habilmente sugerida, sem pressões, que é a
melhor forma de por alguém a pensar, como uma semente que se aloja na mente e
germina algumas ideias.
Na última sessão do Clube de Leitura trocámos livros. Quem
quis levou um livro para dar. Eu levei. Percorri o caminho da dúvida. Primeiro
pensei em não levar. Depois questionei-me para o que seria e imaginei campanhas
de angariação de livros para escolas e/ou países distantes, para crianças que
nunca leram um livro. E aqui deixei-me levar pelo altruísmo. Tretas. Que eu
continuava sem querer dar livro nenhum.
Mas o mais óbvio e lógico seria que o livro fosse para trocar
entre nós, membros do Clube. Haveria mais alguém a sofrer de “possessão de
livros crónica” como eu? Ai só de imaginar toda a gente a partilhar livros
alegremente e eu ficar de fora também me desanimava…
Então pensei em escolher um livro mau para levar. Daqueles
mesmo intragáveis, que detestei e deixei a meio, de que não fosse sentir muito
a falta. Mas esta ideia não avançou. Não poderia dar um livro com tanta energia
negativa a alguém, mesmo que o novo dono viesse a gostar dele eu não ficaria bem
comigo.
Decidi não pensar mais nisso. Se sentia que esta oferta não
me daria prazer, não deveria avançar para esse suposto estádio de libertador
desprendimento. A verdade é que não me sentia nada liberta, estava cada vez mais
doente com a ideia.
Na véspera olhei para a estante. E decidi. Dar um livro. Dos
meus. Experimentar. Escolhi um bom livro: “História da Gaivota e do Gato que a
Ensinou a Voar”, de Luís Sepúlveda. Tinha dois, fiquei com uma edição mais
recente, ilustrada. E dei, dei um livro. Não doeu. Não doeu demasiado. Além
disso ganhei um livro, pois tratava-se realmente de uma sessão de trocas.
Calhou-me um livro que já tenho, “Desgraça” de J.M.Coetzee. Há coisas
caricatas, consegui ficar outra vez com um livro repetido!
Nota: no final da sessão troquei o livro com outra pessoa;
uma espécie de exorcismo dos livros repetidos.
Graças a Deus que não sou a única! Fico sempre a pensar que as pessoas vão achar que sou egoísta, mas não tem mesmo nada a ver com egoísmo, é mesmo por sentimentalismos e por amar verdadeiramente os livros. É uma emoção que eu não sei explicar!
ResponderEliminarNão somos as únicas Sandra, lá na sessão do clube algumas pessoas revelaram o mesmo sentimentalismo! Beijinhos.
ResponderEliminarTambém não consigo...
ResponderEliminarMas é mais ou menos recente. Antes andava muito pelo mundo das trocas, mas havia sempre uns livros que eram residentes permanentes. Agora nem isso. Sou demasiado possessiva com os livros... Já percebi que ñ sou a única! :D Beijinhos
Beijinhos Vera, obrigada pela partilha!
ResponderEliminarUfa! Não somos únicas... Como vos entendo!
ResponderEliminarAcho que somos muita(o)s! :)
ResponderEliminarPois... é algo muito comum aos bookaólicos... também me revejo completamente e, nessas circunstâncias acabo sempre por fazer uma coisa... vou comprar um livro para dar... ou trocar... eu culpada me confesso... ;)
ResponderEliminarBeijinhos